História
do Design

{da Revolução Industrial à Bauhaus}
É

difícil dizer quando eu nasci precisamente, pois desde o princípio da civilização, o homem primitivo identificava e produzia sinais gráficos.

Revolução
Industrial

M

as eu, como vocês me conhecem hoje, só ganhei esta forma quando James Watt criou o motor a vapor e, consequentemente, deu um passo fundamental para Revolução Industrial.

E

ssa revolução foi um divisor de águas na vida das pessoas e mudou radicalmente o modo de produção dos bens de consumo, permitindo que os produtos agora fossem produzidos em largas escalas.

        Graças a isso, eu ganhei essa carinha aí.

M

as nem todo mundo ficou satisfeito com essa mudança. Principalmente William Morris, que estava descontente com a desumanização do trabalho, a poluição do meio ambiente e me achava de péssimo gosto e desconjuntado.

Arts & Crafts

I

nspirado pelas ideias do crítico de arte John Ruskin, Morris acreditava que poderia resolver esses problemas que o aborreciam, reunindo arte e ofício, defendendo a chamada arte “feita pelo povo e para o povo”.

    Morris e mais seis amigos se reuniram e fundaram em 1861 a Morris, Marshall, Faulkner & Co. Nas mãos de Morris, eu me transformei nos mais diversos objetos para o lar.

A

lém disso, muitos outros grupos motivados por
Morris fundaram sociedades e guildas, nas quais pretendiam dar protagonismo aos artesões, que planejavam e executavam as obras em um ambiente coletivo.

      Dentre as diversas guildas que surgiram no período, a Century Guild, fundada por Arthur Mackmurdo, se destacou, dando início a uma nova estética, ao incorporar características renascentistas e da arte japonesa, chamada de Ukyo-e.

Art Nouveau

C

ativados pelo Ukyo-e, Jules Chéret e Eugène Grasset ficaram empolgadíssimos com a ideia de unificar as belas artes à arte aplicada e, mais ainda, com a possibilidade de inventar formas, ao invés de copiá-las diretamente da natureza.

     Por isso nas suas mãos e na de diversos outros arquitetos, artistas, tipógrafos e escultores, eu adquiri formas orgânicas - parecidas com as de uma planta - , cores chapadas, belíssimos motivos florais e muitas vezes assumi a forma feminina.

O

Art Nouveau floresceu em muitos lugares no mundo e em cada um deles ganhou características e nomes únicos.

Arte Moderna

A

Europa passava por mudanças que alteravam todos os aspectos da sociedade. As monarquias foram substituídas por governos democráticos, comunistas ou socialistas. O transporte foi drasticamente modificado com o surgimento do automóvel e do avião. A comunicação humana passou por transformações profundas, com o cinema e a rádio transmissão sem fio.  

       Diante de toda essa efervescência, era inevitável que eu e minha estimada amiga, a arte visual, passássemos por uma espécie de revolução criativa, na qual nossos antigos valores e nosso papel na sociedade fossem questionados.

       Alguns movimentos modernos tiveram efeitos limitados sob mim. Entretanto, incorporei muitas características de outras vanguardas, como o Dadaísmo e o Futurismo.

Dadaísmo

O movimento Dadá se rebelava contra o morticínio da Primeira Guerra Mundial, a decadência da sociedade europeia e a convicção cega no progresso tecnológico. Por isso, tinha um componente negativo e se declarava antiarte. Seus trabalhos gráficos eram marcados por títulos absurdos e de disposição casual, isso permitiu que o movimento progredisse o repertório visual iniciado pelo Futurismo. Consequentemente, os dadaístas me ajudaram a abandonar alguns dos meus preceitos tradicionais na tipografia.

Cubismo

O cubismo buscava um conceito de representação independente da natureza, desafiando a herança pictórica renascentista. Por meio de cores austeras e renunciando a perspectiva, Pablo Picasso e Georges Braques mudaram o curso da pintura, e, até certo ponto, o meu também. Essa nova abordagem de composição visual, me impulsionou rumo à abstração geométrica e a uma mudança de postura em relação espaço pictórico.

Expressionismo

O movimento Surrealista tem raízes no Dadá e foi fortemente influenciado pelas teorias psicanalíticas do psicólogo Sigmund Freud, enfatizando o papel do inconsciente na arte. Os artistas surrealistas procuravam pelo “mundo mais real, que o real por trás do real”. O pintor espanhol Salvador Dalí foi um brilhante nome do movimento, suas obras inspiraram os designers a me construírem dando profundidade à página impressa chapada.

Futurismo

O Expressionismo pautava-se em retratar emoções subjetivas, não a realidade objetiva. Condenava a superioridade do exército, a educação e o governo. Além disso, era bastante empático aos pobres e marginalizados. Paul Klee e Wassily Kandinsky foram dois artistas que se destacaram no movimento, suas técnicas e temática muito me inspiraram. As teorias sobre cor e formapor ele propostas, tornaram-se importantes pilares para mim e para aqueles que me estudam.

Surrealismo

O Futurismo surgiu na Itália no início do século 20, quando Filippo Marinetti publicou o Manifesto Futurista, que expressava entusiasmo pela guerra, velocidade e dinamismo. Os futuristas pegaram uma grande parte de mim, a tipografia, e a utilizaram de uma maneira jamais vista antes, combinando diferentes famílias, pesos e cores. Muitas vezes os tipos eram organizados para formar figuras, como aeronaves e explosivos, abolindo restrições de guias verticais e horizontais. O Futurismo impeliu os designers a repensarem a natureza das palavras tipográficas.

Construtivismo
Russo

N

a segunda metade do século XX a Rússia foi destruída pela Primeira Guerra Mundial e em seguida pela Revolução Russa, que depôs a monarquia e levou ao poder o Partido Bolchevique, de Vladmir Lênin. Ao final desse processo, surgiu a União Soviética, o primeiro país socialista do mundo.

       Durante esse lapso de ruptura política, os frutos da arte criativa que surgiram nesse período exerceram influência direta sobre mim.

O

pintor Kazimir Malevitch despertou um estilo de pintura constituído por formas básicas e cores primárias, o qual ele batizou de Suprematismo. Apoiado por Wassily Kandinsky, os dois defendiam que a arte deveria ser uma atividade espiritual, sem caráter utilitário, renunciando um papel político-social.

       Em contrapartida, liderados por Vladímir Tátli, Aleksander Ródtchenko e El Lissitzky, alguns artistas russos renunciaram à “arte pela arte”, e foi então que eu entrei em cena, pois esses artistas decidiram se dedicar a ninguém mais, ninguém menos, do que a mim. Assim surgiu o Construtivismo Russo, inspirado pela estética Suprematista e Cubista, buscou democratizar a arte e a colocar a serviço da sociedade.

Art Déco

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Art Déco, como o próprio nome diz, foi um estilo exclusivamente decorativo, carecendo de intenções filosóficas e políticas, que surgiu em Paris na década de 1920. Adolphe Mouron Cassandre foi o principal artista do estilo, e me projetou de maneira semelhante ao Art Nouveau, mas substituindo as tradicionais formas orgânicas por formas geométricas aerodinâmicas.

O

movimento cobriu todas as áreas do design: da moda à arquitetura, o maior exemplo de arquitetura Art Déco é o prédio Chrysler, em Nova Iorque.

       Mas existe uma grande obra Art Déco mais perto do que você imagina, o Cristo Redentor construído entre 1922 e 1931 pelo escultor francês Paul Landowski.

De Stijl

O

movimento surgiu na Holanda, noinício de 1917, assim como o Suprematismo Russo, o De Stijl impeliu o cubismo para uma arte geométrica pura. Piet Mondrian e Theo van Doesburg foram os principais nomes do movimento e buscaram se afastar completamente da arte tradicional, basearam seu trabalho no uso de retas verticais e horizontais, e no uso das três cores primárias: vermelho, amarelo e azul.

o

De Stijl acreditava que dessa maneira poderia construir uma nova sociedade harmônica. As noções do Suprematismo Russo e do De Stijl Holandês foram muito importantes ao longo do século XX, o uso de construções geométricas para organizar projetos impressos é um exemplo. Além disso, o ideal de aliar as demandas sociais à tecnologia e arte, tornou-se uma centelha para aqueles dispostos a construir um novo eu.

Bauhaus

A

próxima memória que vou contar é particularmente especial para mim, pois diz muito sobre a minha história. Falarei da Bauhaus, que foi uma das minhas maiores e mais importantes expressões modernistas, e a primeira escola dedicada a me estudar no mundo.

T

udo começou quando após a PrimeiraGuerra Mundial, Walter Gropius assumiu a diretoria da Escola de Artes e Ofícios de Weimar, na Alemanha, e a fundiu à Escola de Artes, buscando unificar arte e tecnologia. Gropius acreditava que o designer com formação artística seria capaz de conferir alma aos produtos industrializados.

A

princípio o curso foi estruturado pelosuíço Johannes Itten, que visava explorar a capacidade criativa de cada aluno, ensinar sobre a natureza física dos materiais e explicar os meus princípios fundamentais. Posteriormente, Ittens foi substituído pelo construtivista húngaro László Moholy-Nagy, que apaixonado por fotografia e tipografia, possibilitou experiências importantes na unificação das duas áreas.

N

os anos seguintes, a Bauhaus sofreu com imposições inaceitáveis do governo conservador que emergiu. Professores e alunos optaram por se demitir e Gropius negociou a transferência da Bauhaus para Dessau. Durante esse período, as bases do De Stijl e do Construtivismo mostraram-se mais evidentes.

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m 1928 Gropius renunciou ao seu cargocomo diretor, no mesmo ano Ludwig Mies van der Rohe assume a direção da escola. Mies van der Rohe foi um renomado arquiteto, cuja máxima “menos é mais” se tornou meu lema durante o século XX.

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m 1931 a ascensão do partido nazista na Alemanhatornou a existência da escola insustentável e a Bauhaus foi diluída. No entanto, o legado da Bauhaus permanece vivo até hoje, a escola me enxergou como um caminho para mudança social e revitalização cultural.

Mas...
o que aconteceu depois?

       Bom, muita coisa aconteceu depois, mas vou guardar o restante dessa história para um outro dia.

       Com a escala dramática em que as pessoas têm acesso à ferramentas criativas hoje em dia, há muitas chances de que o próximo gênio do design esteja emergindo no mundo, e me manipulando de formas jamais vistas anteriormente.

       Com movimentos que surgem e morrem em nanosegundos, quem escreve a minha história hoje são vocês.

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